O patrimônio da empresa Medeiros & Medeiros Ltda, que inclui uma casa de alto padrão em Brasília (ainda em construção) e uma fazenda na Paraíba, é pelo menos cinco vezes maior que o R$ 1,1 milhão declarado pelo deputado à Justiça Eleitoral em 2022. A matéria do portal UOL desta quinta-feira (10), cita ainda que os sogros de Hugo são réus na Justiça por fraude à licitação e desvio de recursos públicos em Cabedelo (PB), por um caso em que o Ministério Público da Paraíba apontou um esquema entre políticos e empresários que teria drenado R$ 4,8 milhões dos cofres públicos.
A atividade econômica declarada, segundo registro na Junta Comercial da Paraíba, é aluguel de imóveis, loteamentos, incorporação de empreendimentos e compra e venda de imóveis. Não há ilegalidade no fato de a empresa ter patrimônio maior que o declarado pelo deputado federal — é comum que famílias tenham bens em nome de empresas.
A empresa está em nome de sua mulher, Luana Medeiros Motta, e dos dois filhos do casal, menores de idade. Foi criada em 2019, no início do terceiro mandato de Motta na Câmara. Procurado, Motta disse que “todos os dados contábeis e movimentações financeiras referentes às atividades do deputado Hugo Motta e de sua família estão dentro da legalidade e são regularmente declarados junto aos órgãos competentes”.
Em 2022, a empresa adquiriu um terreno em Brasília, no bairro nobre do Lago Sul, por R$ 2,2 milhões, onde estão construindo uma casa para os quatro morarem — caso Motta se torne presidente da Câmara, o plano será adiado, já que deverão morar na residência oficial.
O terreno foi comprado do advogado Marcos Joaquim, que já defendeu Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, primeiro padrinho político de Motta em Brasília.
Fazenda na Paraíba
Em 29 de março de 2023, a empresa Medeiros & Medeiros Ltda comprou uma fazenda de 287 hectares do empresário e ex-senador Raimundo Lira por R$ 2,7 milhões. A fazenda fica em Serraria (PB), cidade de seis mil habitantes a duas horas de distância de João Pessoa. Na região, segundo a classificação do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), é considerada uma propriedade de tamanho médio.
Na matrícula do imóvel, há a estrutura que foi repassada com a venda: uma casa sede, duas casas para moradores, um curral, oito praças de alimentação para o gado, um galpão com baias para cavalos e depósito de ração, dez açudes, uma barragem e uma lagoa.
O UOL visitou o local e conversou com o gerente da fazenda, Fernando — que dirigia um carro com adesivos da campanha de Nabor Wanderley (PP), pai de Hugo Motta, reeleito prefeito de Patos (PB), cidade que fica a três horas de carro de lá.
Segundo o gerente da Agropecuária Tapuio, boa parte da equipe foi aproveitada da época em que a fazenda pertencia a Raimundo Lira. Enquanto conversava com a reportagem, ele dava instruções a pedreiros que trabalhavam em pequenas reformas.
A casa da sede da fazenda, recém-pintada e reformada, tem uma sala de jantar com vista para o campo e uma estrutura de lazer com cama elástica e brinquedos infantis. No entorno, todos conhecem o terreno como a fazenda do deputado Hugo Motta. Poucos dias antes de adquirir a fazenda, em 24 de março de 2023, a empresa da família comprou também um terreno de R$ 900 mil em Patos.
É uma esquina em uma região central da cidade, onde ficava um famoso cinema de rua, demolido há mais de uma década.
Luana Medeiros Motta, esposa de Hugo, é assessora da diretoria da Codevasf, estatal controlada pelo centrão, desde 2019. Seu salário é de cerca de R$ 17 mil por mês. Seus pais, Severino Medeiros e Maria Eliane de Araújo Medeiros, são empresários do ramo de coleta de lixo e engenharia e já tiveram contratos com diversas prefeituras, entre elas Patos.
Os dois sogros de Hugo são réus na Justiça por fraude à licitação e desvio de recursos públicos em Cabedelo (PB), por um caso em que o Ministério Público da Paraíba apontou um esquema entre políticos e empresários que teria drenado R$ 4,8 milhões dos cofres públicos. Procurados, eles não responderam ao contato do UOL.
Na declaração de bens de Hugo Motta ao TSE, consta ainda que ele é dono de 50% de uma aeronave, uma fatia avaliada em R$ 100 mil. O outro dono é a empresa Avpar Participações, na qual um dos sócios é o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Aguinaldo e Hugo competem por uma potencial vaga no Senado em 2026. Esse plano deve mudar caso Hugo Motta se torne presidente da Câmara no ano que vem, já que uma reeleição como deputado seria mais atrativa para tentar garantir uma segunda presidência da Casa. Apesar de disputar território com Aguinaldo, os dois têm boa relação e dividem o uso do avião comprado em 24 de setembro de 2020 de uma construtora, a JGA.
O valor da aeronave não é um consenso. Na declaração de bens de Hugo Motta, ele é avaliado em R$ 200 mil (50% seriam R$ 100 mil). Na matrícula, o registro é de que a venda teria custado R$ 62 mil. Já nos balanços da JGA, seu valor estimado era de R$ 300 mil.
Em 2022, o avião foi usado na campanha de Aguinaldo de maneira irregular, segundo especialistas em direito eleitoral. Houve uma doação estimada em dinheiro de R$ 40 mil de Hugo Motta a Aguinaldo, que corresponde a um “empréstimo” da sua parte do avião.
Como 50% do avião pertence a uma empresa, segundo entendimento do TSE, que já foi consultado sobre casos assim, ele não pode ser usado através de uma doação, já que isso configura uma doação de pessoa jurídica, vedada pela legislação atual.
“Para ambos os candidatos, configura-se como doação de pessoa jurídica. O correto seria a locação ou fretamento do bem”, diz Luiz Fernando Pereira, advogado e coordenador da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político).
Motta disse, ao UOL, que sua prestação de contas foi aprovada pela Justiça eleitoral. “Foi feita uma doação, declarada à Justiça Eleitoral, para o seu uso pelo deputado Aguinaldo Ribeiro, que teve a prestação de contas aprovada pelo TRE-PB.” A assessoria de Aguinaldo Ribeiro disse, ao UOL, que suas contas referentes à campanha de 2022 “foram devidamente declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral”.
Vejam detalhes: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2024/10/10/empresa-de-mulher-e-filhos-de-hugo-motta-comprou-r-58-milhoes-em-imoveis.htm
Redação